Cosmiatria Íntima

Com certeza a redução dos pequenos lábios é o procedimento cirúrgico estético mais comum da vulva.

Mas é frequente a combinação de procedimentos, onde, muitas vezes, é necessário mexer em grandes lábios.

Uma consideração importante: existem grandes lábios magrinhos e grandes lábios flácidos.

Como assim?

Os grandes lábios magrinhos têm uma boa qualidade de pele. Quando examinamos a mulher de pé, eles não ficam pendurados. Ficarão lindos preenchidos.

Quando os grandes lábios são flácidos, muitas vezes eles são até gordinhos, mas estão pendurados.

Nesse caso, o excesso de pele pode ser retirado cirurgicamente ou o preenchimento vai “pesar”, não vai ficar bonito, dando a impressão de mais pendurados ainda.

O preenchimento entraria em um segundo momento, após uma completa cicatrização.

Não tem regra para a melhor estratégia. Vai depender da avaliação do ginecologista.

Queria escrever sobre ninfoplastia, a cirurgia íntima mais procurada pelas brasileiras, e fui ver o que já haviam escrito, para não ficar repetitiva.

Para minha surpresa, tive a impressão que boa parte do que li não é escrito por quem faz essa cirurgia habitualmente. Acho que, como eu, quem faz, não escreve (e quem escreve, não faz?!).

1. “Pode haver redução na sensibilidade”.

Nunca vi. Nada do que fica é lesado durante a cirurgia. Seria mais fácil isso acontecer em uma cirurgia de períneo, em que abrimos, aproximamos músculos, fechamos e a área mexida fica toda lá, mas também nunca vi acontecer.

2. “Não pode tirar a pele do clitóris ou fica muito sensível”.

Depende. Algumas vezes, em função do uso inadequado de anabolizantes, o clitóris e pequenos lábios podem aumentar (os grandes murcham). A retirada desse excesso de pele não deve expor o clitóris por dois motivos: a sensibilidade pode ficar aumentada e o aspecto estético fica ruim, com o clitóris ainda mais proeminente. Quando o clitóris é pequeno, mas a pele está sobrando, ela pode ser retirada sim, com uma agulha de micro incisão, bem superficialmente. Essa pele é análoga à que é retirada no homem com fimose. Retiro em algumas mulheres sim, e a cirurgia fica ótima, mas essa análise tem que ser feita. Clitóris é uma coisa e pele é outra.

3. “Não dói”.

Bom, depende do lábio e do limiar de dor de cada uma. Umas dizem que não, outras que sim. O retorno às atividades profissionais pode ser até imediato, dependendo do seu tipo de trabalho.

4. “Pode dar estreitamento do introito vaginal (entrada da vagina), impedindo a penetração, podendo precisar de outra cirurgia para correção”.

Li isso, mas não consigo nem imaginar de onde tiraram.

5. “Pode dar queloide”.

Gente, nunca vi.

6. “Pode dar hematoma”.

Concordo. Pode dar sim. Já vi sangrar de encharcar fraldão, mas a estratégia do gelinho é maravilhosa.

7. “Precisa ser realizado após a menstruação, para não abafar a vulva com o absorvente”.

Bom, se menstruar, o absorvente interno e o coletor menstrual resolvem isso.

8. “Tem que aplicar pomada cicatrizante e com ação bactericida”.

Não, água e sabonete são perfeitos, bactericidas e não dão alergia. Se a cicatrização der uma coceirinha (pensa o apuro), dá até para usar um creminho.

9. “O resultado final pode ser visto após 6 meses”.

Não. Desincha e os pontos caem rápido. Em um mês está tudo certinho. Relação sexual, exercícios intensos, tudo em um mês.

10. “Precisa preencher os grandes lábios”.

Um pouco de cautela com o aumento dos grandes lábios para esconder os pequenos. Com a diminuição dos hormônios femininos, perda de peso e uso de anabolizantes, os grandes lábios parecem murchar. Estamos na era dos preechedores (caros, né?). Calma, amo! Qualquer mulher da minha idade sabe as maravilhas que eles podem fazer na face. Mas é preciso considerar que os grandes lábios parecem precisar de mais preenchimento quando, na verdade, os pequenos lábios é que estão sobrando.

11. “O papel dos pequenos lábios é proteger a vagina”.

Isso dá a impressão de que quanto maiores, melhor. Como ginecologista, nunca atribuí infecções vaginais a pequenos lábios curtos. E andamos vestidas, então fico pensando que proteção estaria sendo atribuída a eles.

12. “Pequenos lábios maiores favorecem infecções, por acumulo de secreções”.

Que secreções? Secreções fisiológicas? Mas elas não são maiores em quem tem pequenos lábios maiores. Nunca vi nada disso.

13. “Ninfoplastia pode prejudicar a lubrificação”.

Não, né? Senão mulheres com pequenos lábios naturalmente pequenos não lubrificariam.

14. “É novidade”.

Não. A cirurgia íntima estética não é novidade, como alguns querem sugerir. O ginecologista sempre realizou cirurgias vaginais, com correções perineais, correções de mal posicionamento de órgãos, assimetria de lábios. Buscar o belo, na cirurgia vaginal, não é novidade, é o trabalho do ginecologista.

15. “Pode ser realizada em consultório ou centro cirúrgico”.

Aqui eu concordo sim. A prioridade é o conforto da paciente. Se for feita no centro cirúrgico, ela pode ser sedada, e ir embora ao acordar, ou ficar acordadinha de tudo, o tempo todo.

16. “O laser é melhor”.

Atualmente muito se fala do laser. O laser não é uma estratégia mágica, é só uma forma de corte. Pedem ser usadas também a micro agulha da radiofrequência ou instrumental convencional. Uso todos, a critério da paciente, e não vejo diferença. Um cuidado deve ser tomado com o laser: como ele não é tão bom para coagular sangramento, nos lábios mais gordinhos, pode ser preciso apertar mais os pontinhos (que caem sozinhos), deixando o lábio marcado.

17. “Mulher que se preocupa com isso pode ter TDC (transtorno dismórfico corporal)”.

Existe um grupo de publicações que enfatiza muito o fato dos lábios serem normais, qualquer que seja o formato (e aí a mulher se sente precisando de terapia, caso esteja insatisfeita). Os lábios da vulva podem ter diferentes aparências, pequenos, grandes, assimétricos. Concordo, mas também concordo que nariz feio também é normal e você pode não querer ficar com ele, então, por mim, está ok querer que os lábios da vulva sejam bonitos para serem bonitos. Eu não lhe acho louca.

Concluindo…

A cirurgia vaginal cosmética tem ganhado ampla aceitação e divulgação em decorrência da valorização das formas e dos conceitos estéticos de beleza e dos excelentes resultados obtidos com uma técnica bem apurada.

A ninfoplastia melhora a aparência da vulva, eleva a autoconfiança, reduz desconforto na relação sexual e prática de atividade física, diminui dores que podem ser causadas pelo atrito.

Mas é importante a consideração de alteração funcionais e estruturais, então antes de se decidir pela cirurgia, fale com seu ginecologista e esclareça suas dúvidas. Você pode precisar de procedimentos combinados para atingir seus objetivos da melhor maneira.

Já me perguntaram se Botox íntimo é para rejuvenescimento vaginal. Kkk, embora exista uma imensa variedade de técnicas para o tal rejuvenescimento vaginal, Botox não é para isso.

Algumas mulheres referem dor na entrada da vagina durante a relação sexual. A dor acarreta tensão, ocasionando mais dor, desencadeando um ciclo difícil de ser interrompido, com o desenvolvimento de outras disfunções sexuais.

O uso de lubrificantes é ineficiente, o que é fácil de entender, já que não se trata de um problema de secura vaginal, mas uma contração dos músculos da vagina.

Assim como na face, o Botox vaginal tem efeito temporário, por até 6 meses. Muitas vezes esse tempo é o suficiente para interromper o ciclo de medo causando a dor. Nesse período também pode ser feita fisioterapia pélvica, com chance de resolução do problema.

É importante um bom conhecimento da musculatura do assoalho pélvico para identificar, ao exame ginecológico, os músculos envolvidos na dor, lembrando que bloquear o músculo errado, como o esfíncter anal, pode ocasionar até algum grau de incontinência.

Uma outra indicação do Botox na região íntima pode ser o excesso de suor, assim como já é feito nas axilas.